Quer muito dinheiro no bolso em 2012? Então, me desculpe por te desapontar.

Continuando meu penúltimo post aqui, ouvi recentemente um seminário em minha igreja local sobre finanças que acrescentou muito pra mim, e evoluiu minha maneira de enxergar o assunto. Gostaria apenas de destacar dois textos bíblicos citados durante ele, e refletir sobre ambos (leia até o final para entender o sentido direitinho, blz?):
"Quando tiverem separado o dízimo de tudo quanto produziram no terceiro ano, o ano do dízimo, entreguem-no ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva, para que possam comer até saciar-se nas cidades de vocês." (link)
" E Deus é poderoso para fazer que lhes seja acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra...Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião." (link)
Os olhos dos fiéis brilham, diante da promessa de prosperidade divina anunciada nos típicos momentos de ofertório das igrejas. Mas, se não devemos buscar os tesouros desse mundo, como é dito nos palcos, qual seria então o objetivo dessa prosperidade? E porque tanta euforia pra recebê-la? Porque tanta dificuldade em entender que o cristão é chamado pra viver com o essencial, e doar o restante para aquele que não o tem? Porque tanta empolgação em obter algo que não deve permanecer em nossas mãos?
Quantos de nós, na hora de contribuir numa igreja, ao ouvirem expressões como “o que muito semeia, muito colherá”, tem o coração aquecido de verdade por pensar na oportunidade de colher muito para investir generosamente no necessitado, no excluído, no órfão e na viúva? Sendo sinceros com a gente mesmo, será que quando nós ouvimos frases como a colheita "recalcada, sacudida e transbordante", o que (realmente) passa na nossa cabeça não são as recompensas da "obediência voluntária" revertidas em novos bens, maiores salários ou aquela aquisição que a gente queria fazer mas não estava tendo condição?
Estranho é ver que Jesus, em toda sua trajetória, foi quem mais doou, mais repartiu e mais contribuiu em toda a história da humanidade, mas em nenhum dos Evangelhos, nenhum mesmo, a gente vê Cristo rico, transbordando de recursos e desfrutando do “melhor da sua terra”. No entanto, o vemos nascendo num estábulo, ou caminhando num jumentinho emprestado ou ainda não tendo onde reclinar sua cabeça pra dormir. E ainda assim, ele continuava repartindo, se dando e suprindo a outros.
Na igreja primitiva, registrada na Bíblia, não havia necessitados. Mas isso não era porque todos prosperavam, mas sim porque o que tinha partilhava com o que não tinha. No livro de Filipenses, São Paulo relatou que sabia viver tanto com o pouco quanto com o muito, assim como também passar fome e ter fartura, e que aprendeu a estar contente em ambos os casos. E você, está contente com o que tem?
Sim, existem consequências da desobediência, mas baseado no exemplo do apóstolo, porque achar que a escassez temporária de recursos significa obrigatoriamente maldição, consequência do pecado ou que “algo está errado”? Talvez a sua necessidade seja simplesmente uma oportunidade para Deus supri-la através de outra pessoa. Assim aconteceu com São Paulo, e assim deve funcionar nas igrejas.
Atualmente, muitos defendem enquanto muitos outros criticam os líderes religiosos que têm salários altos. Não quero tocar nessa questão, pois a Bíblia nos ensina a honrá-los com os nossos melhores recursos (Ezequiel 44:30 e 1 Timóteo 5:17). Mas eles deveriam ser também os maiores modelos e exemplos de renúncia, vida simples e enxuta, sem luxo e apenas com o necessário. Assim como o apóstolo São Paulo, que dizia para o imitarem, pois ele imitava a Cristo, os nossos líderes também deveriam ser imitados por nós, ao imitarem Jesus, que "sendo Deus, não quis ser igual a Deus, mas esvaziou-se de si mesmo e assumiu a forma de um servo”, humilde, com apenas uma túnica e levando a uma vida restrita ao essencial.
Os pastores, bispos, apóstolos, padres, etc. deveriam ser os primeiros a se esvaziarem por completo de seus recursos, seguindo os passos do Mestre, para que toda a igreja se esvaziasse através do exemplo dado, e assim, a sociedade fosse abastecida e saciada principalmente por ela, e não apenas pelos programas e iniciativas governamentais.
Tudo isso está implícito no segundo texto bíblico transcrito no início dessa reflexão ("tendo tudo o que é necessário" ou seja, o que não é necessário, deve ser revertido em boas obras).
Porém, se os líderes religiosos insistem em defender um estilo de vida luxuoso, se justificando através de algumas pequenas obras sociais de alcance limitado, as ovelhas seguirão seu exemplo inevitavelmente, e a cidade como um todo continuará sendo uma realidade distante e inatingida, enquanto a Igreja se farta, se embriaga e engorda.
E se não pregamos o Evangelho integral à nossa cidade primeiramente, como queremos pregar "a toda criatura" ou "até os confins da Terra"?
Desculpem-me se eu incomodo, mas Deus nos chama para vivermos com pouco, mesmo ganhando muito, seja o líder, seja o membro que não lidera, seja o cara que tá chegando agora na Igreja. Em quantas cestas básicas um carro importado não poderia ser revertido? Se você comprar um computador mais simples do que o top de linha que está almejando (só por causa de uma marca), não poderia investir a diferença restante num projeto assistencial ou num abrigo? Você precisa mesmo trocar seu celular só porque lançou-se um melhor? E que tal vender seu automóvel luxuoso, comprar um "Celtinha", invistir o restante no órfão e na viúva e ainda assim, chegar nos mesmos lugares que iria antes (um pouco mais devagar, só que muito mais próximo do exemplo de Jesus)? 
Não digo isso para julgar a ninguém, pois recentemente eu mesmo me peguei comprando uma peça de roupa relativamente cara (cujo o valor é maior do que aquele que posso investir mensalmente no pobre e no excluído). Diante do conteúdo exposto no seminário, não tive outra opção se não reconhecer meu pecado e me arrepender.
Fiquei impactado pelo exemplo de um dos filhos do preletor: ao invés de 10%, chamado nas igrejas de dízimo, ele decidiu entregar mensalmente muitas vezes mais do que isso. Já pensou se todo o cristão pensasse desse modo, não dando de forma mística seu dinheiro pra Deus (como se Deus precisasse dele), mas aplicando seus recursos conforme o primeiro texto bíblico citado no início desse post? Nossa sociedade seria transformada rapidamente.
Sabe por que as pessoas, tanto dentro como fora das igrejas, têm tanta resistência ao dízimo? Porque desconhecem essa verdadeira finalidade dele (Deuteronômio 26:12 - link). Elas erram, porque não conhecem as Escrituras.
Chave: Igrejas são compostas por pessoas. Se Cristo nos ensinou que não devemos acumular tesouros aqui na terra, logo a igreja também não deve. Ela não pode ser um fim em si mesma para os recursos financeiros de seus membros, antes, ela deve ser um local que intermedie e favoreça a transição daquele que tem para aquele que não tem. Essa é a verdadeira generosidade.
Aprendemos muito com todos os exemplos bíblicos, alguns pobres, outros nobres, alguns possuindo apenas uma moedinha outros possuindo os maiores impérios de sua época. Porém, quanto a imitar, eu prefiro seguir apenas a Cristo. 

Com amor,
Edu.

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