Discipulados ou Desgarrados?



Estatisticamente, no Brasil, o número de cristãos evangélicos em igrejas é proporcional ao número de desviados. Ao lermos a Palavra do Senhor, percebemos através dos exemplos de discipulado, como o de Paulo e Timóteo e Jesus com os 12, que discipular significa sobretudo, andar junto, partilhando o pão espiritual e o físico, instruindo, orientando, acompanhando e principalmente, um vivenciando a vida do outro.
No entanto, os próprios exemplos deixados para nós mostram que essa é uma caminhada que leva tempo. Cristo gastou 3 anos junto com seus apóstolos exercendo essa forma pura de discipulado. Todos os dias, todos os momentos, e não apenas com encontros coletivos aos fins de semana ou por e-mail. Ele fez parte da vida comum deles. E hoje, fico perplexo ao ver a nossa sede desenfreada por ganhar almas e encher as igrejas de gente. Aos olhos do Pai, segundo a Bíblia, todos precisam ser salvos - isso é fato, e precisamos partilhar desse desejo. Porém, me pergunto se a salvação do homem não seria mais um caso no qual a pressa é inimiga da perfeição. Temos tempo hábil para discipular as pessoas que estão vindo, aceitando, crendo e se batizando? Existe tempo hábil para "vivenciar a vida" delas? Nos meus bons 25 anos de igreja, já perdi a conta de quantos vieram, gostaram, se identificaram, foram convencidos pelo Espírito Santo, se arrependeram e foram batizados, e com o passar do tempo, deixaram a igreja ou pior: deixaram a fé. Geralmente atribuímos isso às classificações presentes na parábola do semeador: "são pessoas em que a semente não caiu em terra boa, mas sim, entre espinhos e pedras...", costumamos dizer, ou cristãos que apostataram. E nos lamentamos por isso, apenas. 
Me pergunto se os líderes, os discipuladores ou as pessoas que as "ganharam" pra Cristo não estavam divididas demais ou ocupadas demais com ganhar o mundo. Não existe a possibilidade de discipulado legítimo sem gastar muito tempo junto, e não há possibilidade de um único cristão investir tempo de qualidade com muitas pessoas ao mesmo tempo. 
As estatísticas infelizmente comprovam isso. E mais do que estatísticas brasileiras - eu tenho as minhas próprias, baseadas nas pessoas que tenho visto entrar e sair da minha comunidade local a anos. Gente bem intencionada, gente que aceitou sinceramente a Palavra empregada, mas que no entanto, não tiveram alguém que deixasse um pouco de lado as 99 ovelhas pra passar tempo de qualidade com a ovelhinha que acabou de chegar. Passar muito tempo. É no discipulado legítimo que descobrimos as fraquezas uns dos outros e nos posicionamos para nos fortalecer mutuamente. Por vezes, aquela pessoa que mais parece despontar e brilhar num ministério está cheia de complexos, traumas, compulsões e feridas que não são resolvidos num pré-batismo. Na minha trajetória cristã, quantas e quantas pessoas conheci que, apesar de exercerem funções altamente importantes em sua igreja local e na minha própria denominação, estavam cheias de pecados que não tinham coragem de se abrir com ninguém, ou estavam cheias de marcas deixadas pela vida e pelas circustâncias. Quantos irmãos eu já perdi pras drogas. Quantos irmãos eu já perdi pro sexo e pro homosexualismo. Quantos perdi para a depressão e até mesmo que tentaram tirar a sua própria vida. No entanto, praticamente todos passaram pelo nosso ciclo, aceitando a Jesus, sendo batizados, sendo batizados no Espírito, exercendo algum tipo de ministério ou liderança, etc. 
Tenho certeza que se nós, cristãos "mais maduros", não estivéssemos tão ocupados com o conjunto, esquecendo-nos da atenção individual e delongada às partes, eles ainda estariam de pé na igreja de Cristo.Termino essa pequna reflexão com uma frase que eu ouvi uma vez: "A igreja é a única instituição humana que volta-se para quem está fora dela." 
A verdade é que quanto mais tempo gastarmos nos nossos eventos e nas nossas reuniões, menos tempo sobrará para o perdido, para o discipulado individual de qualidade e para a salvação do perdido, pois há ímpios que nunca irão até a igreja a menos que a igreja se dirija até eles.
Eduardo Santana



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